13 abril 2016

Fila para o leilão: mais de dez grupos querem disputar aeroportos

Participantes estrangeiros reclamam da falta de sócios locais

Aposta no longo prazo. Aeroporto de Fortaleza deverá receber investimentos de R$ 1,8 bilhão. Apesar das incertezas na economia, investidores avaliam que terminais são rentáveis

Há mais de uma dezena de investidores interessados na nova rodada de concessão dos aeroportos — Fortaleza (CE), Salvador (BA), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC) — segundo levantamento da Secretaria de Aviação Civil (SAC) e sondagens junto ao setor privado. Fazem parte da lista, formada majoritariamente por estrangeiros, 14 grupos, entre operadores aeroportuários e fundos de investimentos, que já visitaram os terminais brasileiros que irão a leilão. O governo tem pressa e espera que o Tribunal de Contas da União (TCU) aprove os estudos dessas concessões no próximo dia 20. A expectativa é lançar os editais para consulta pública em maio e realizar o certame em agosto.

Entre os potenciais investidores estão Zurich Airport; Pátria Investimentos com a operadora alemã AviAlliance (ex Hochtief Airports); Corporacion América (que administra Brasília e São Gonçalo do Amarante-RN); a espanhola Ferrovial (aeroporto de Heathrow, em Londres); ADP Paris; a alemã Fraport, a espanhola Aena, a americana ADC & Has (Houston); os fundos de investimentos GP e Vinci  Partners; a francesa Vinci e as construtoras nacionais de médio porte Barbosa Melo e Construcap. As grandes empreiteiras citadas na Operação Lava-Jato não demonstraram interesse e devem ficar de fora do processo, segundo técnicos do governo. As estrangeiras se queixam justamente da dificuldade de encontrar um sócio local para a disputa.

OBRAS E PRAZOS VÃO DEFINIR A DISPUTA

De acordo com fontes do setor privado, esses grupos estão em compasso de espera e a decisão de investir nos aeroportos vai depender das regras dos editais. A lista de obras obrigatórias e a data da conclusão de cada uma são determinantes, porque impactam na obtenção de financiamentos e desembolsos mais imediatos.

Além disso, os investidores esperam uma definição clara sobre como ficarão os contratos que eram executados pela Infraero nos quatro aeroportos, cujas obras foram abandonadas pela estatal. Há temor de riscos jurídicos decorrentes de ações judiciais movidas pelos contratados da Infraero, como acontece em Fortaleza, por exemplo.

— Quanto mais claras as regras, mais o investidor sente segurança em entrar no negócio. Agora, todos estão à espera dos editais. Temos problemas de marco regulatório no Brasil — destacou o consultor em negócios aeroportuários, Érico Santana.

Ele citou como exemplo o fato de a Infraero ser autorizada pelo governo a fazer concessões parciais nos aeroportos de Congonhas, no Santos Dumont e demais terminais, depois de iniciado o processo de privatização no setor — o que mexe com o mercado. A pressão do governo para elevar as receitas ao exigir do novo concessionário 25% do valor de outorga no ato da assinatura do contrato pode ser um empecilho a mais.

INVESTIMENTO DE R$ 8,4 BILHÕES

De acordo com estimativas do governo, o investimento total nos quatro aeroportos será de R$ 8,4 bilhões, sendo R$ 1,8 bilhão em Fortaleza; R$ 3 bilhões em Salvador; R$ 1,1 bilhão em Florianópolis e R$ 2,5 bilhões em Porto Alegre. Em Salvador, por exemplo, o cronograma prevê a construção de uma segunda pista, o que vai exigir driblar questões ambientais e a ampliação do terminal de passageiros.

Em Porto Alegre, estão previstas obras de ampliação de pista, pátio e terminal de passageiros. Já em Florianópolis, será preciso construir um novo terminal de passageiros. Os investidores querem saber se haverá um gatilho sobre a demanda para fazer essas ampliações e o que será obrigatório no curto prazo.

Além da outorga fixa, os novos concessionários vão recolher 5% sobre o faturamento anual dos aeroportos para a União. O prazo da concessão será de 30 anos, com exceção de Porto Alegre, que foi fixado em 25 anos. Assim que o TCU aprovar os estudos, o governo divulgará os editais para consulta pública. A pedido  dos interessados, haverá um prazo mínimo de 60 dias entre a data da publicação do edital definitivo e a realização do leilão (o prazo anterior era de 45 dias). Por isso, a previsão é que o leilão somente ocorra em agosto.

Os investidores estrangeiros têm se queixado às autoridades brasileiras sobre as dificuldades de encontrar um sócio nacional, diante da crise na economia e dificuldades das empresas em obter crédito em condições mais acessíveis. O envolvimento das grandes empreiteiras na Lava-Jato é outro agravante. Diante disso, a expectativa é que os vencedores do novo certame terão um perfil diferente das primeiras disputas.

— Os aeroportos deverão ser arrematados só por estrangeiros que devem buscar parcerias com construtoras nacionais de médio porte para tocar as obras — disse um técnico envolvido nas discussões.

Segundo essa fonte, o governo está “animado” com o apetite dos investidores estrangeiros e espera faturar com os leilões dos aeroportos. Não se espera que o ágio seja tão elevado quanto na primeira rodada (Brasília, Viracopos e Guarulhos), que chegaram a 600%. Mas há chances de dobrar os lances mínimos, que somarão pouco mais de R$ 3 bilhões.

— Há liquidez no mercado internacional e o preço dos ativos brasileiros está barato — mencionou a fonte.

Do conjunto, o aeroporto de Salvador é o mais cobiçado, segundo as áreas envolvidas. Até o de Fortaleza, tido como menos atraente, desperta interesse. Segundo Santana, consultor em negócios, apesar do grau de incerteza na economia brasileira, as concessões são investimentos de longo prazo, e aeroportos são considerados ativos rentáveis em todo o mundo.Fonte: O Globo POR GERALDA DOCA Leia mais em sinicon 12/04/2016

13 abril 2016



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